ÉRAMOS JOVENS

sábado, 6 de novembro de 2010

AACD Texto II



UM NOVO OLHAR
Ali (na AACD) conheci um mundo de sorriso, de acolhimento. Hidrocefalia e Paralisia Cerebral não eram nada em comparação a tantas outras situações que fiquei conhecendo, não lembro os nomes, são complicadíssimos.
E as pessoas? Tinha minha prima lá dos confins de outro estado, tinha a mãe do extremo sul da capital de SP, que para ali chegar tinha saído de casa NO DIA ANTERIOR, três, quatro conduções com o filho no colo e até a mãe da classe A, chique, enfeitada, cheia de grana, chegando num carro que nunca vi e com CHOFAIR (xoférrrr! essa sim, para nós, de outro mundo). TODAS num mesmo lugar, unidas por seus filhos, sobrinhos, netos. A consulta foi um sucesso, o caso do Bruno era dos menos críticos. Dali mesmo, fomos para a oficina de próteses, para tirar medidas de uma bota ortopédica que ficaria pronta em uma semana.
Falei da mãe da zona sul, né? Mas falei de nós da zona leste? Quatro da manhã e nós já com o Bruno e a mãe dele num ponto de ônibus (não tínhamos carro). Um bebê de 2 anos que não andava, bolsa, malinha, comida, mamadeira, fomos eu e o Ge, ele com o Bruno no colo eu com a prima e as bolsas! Um ônibus (40 minutos), metro de vila Matilde até a Sé, baldeação da Sé para Santa Cruz e mais um ônibus para descer perto da AACD! TÁAAA?? Três horas depois, estávamos lá... mortos de cansados! Mas eu não tinha nem 30 anos... tudo era em prol de ajudar, como sempre fizemos.
Próteses prontas! Adaptação, não forçar para ele não estranhar, mas tentar ao máximo fazer ele se movimentar. Gente, o BRUNO FICOU DE PÉ! As próteses machucavam, incomodavam, faziam calos, ele chorava... mas parecia que já sabia que eram necessárias. Pois não reclamava... sorria quando a gente colocava ele de pé e empurrava, puxava pra ele andar. Eu aos 26, o Ge 21 e parecíamos dois abobalhados como o bruno. Minha mãe... afff, minha mãe deu o quarto, a cama, tudo! Alias, a vinda do Bruno para SP foi a desculpa para mamãe trocar o jogo de quarto! Afinal era a filha da irmã dela que vinha com o sobrinho-neto, e se era filha da irmã, merecia tudo DO BOM E DO MELHOR.
Ele saiu de SP para volta com 6 meses, levou instruções para fisioterapia, etc etc. Seria o tempo de se acostumar com as próteses e trocá-las devido ao crescimento. Assim foi feito. Cada chegada de Bruno a SP era uma festa, faltávamos no trabalho, levávamos ele para todos os amigos conhecerem, e choraaaaaaaaaaavamos quando ele ia embora, parecia que não íamos nos ver nunca mais. A AACD passou a ser extensão de nossa casa, que coisa linda acontece ali, se você não conhece, não perca tempo.
A história de uma vida não dá para ser resumida, mas já está escrita a parte. Aqui é só para ilustrar e colocar o valor dessa instituição e do Bruninho que é prova viva do trabalho da AACD (detalhe: SEM PAGAR NADA).
Assim fomos de seis em seis meses, com lágrimas de alegria, pois as perninhas do Bruno já ficavam esticadinhas e ele andava segurado na gente! Em 1996 meu irmão comprou nosso primeiro carro, afff! Adeus busão e metro para a AACD! Que felicidade! O Bruno ia ter conforto! Na primeira consulta que fomos de carro, quase não cabia gente! Fomos com lotação esgotada! Kkkkkk. POBRE É FOGO! Desta vez ao chegarmos a Barra Funda, para embarque deles para o Mato Grosso do Sul: BRUNO ANDOU SOZINHO aos 3 anos! Poucos passos, se equilibrando com os braços abertos, pronto.. ficamos desidratados de tanto chorar!
Daí para frente, só evolução. Ele vinha e a gente viajava! Praia, Campos do Jordão, Aparecida. Temos fotos de tudo! Passou um mês internado na AACD para treinamento intensivo, gente do céu: acomodação de HOTEL 5 estrelas! Ele e minha prima, e nós indo lá TODOS OS DIAS, eles não foram deixados UM DIA SEQUER sem contato conosco. O dia que não íamos, ligávamos! Costumo dizer que o Bruno foi o presente que Deus nos deu, e presente você não escolhe! O Bruno foi a preparação para lidarmos com o Alzheimer atual de mamãe.
Segue...

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