ÉRAMOS JOVENS

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A primeira mudança, a gente nunca esquece...(2005)


Vou mudar.

Depois de 36 anos, vou mudar de casa. Deus! Estou apavorada. Nunca encaixotei nada pra mudar. Vou ter que dar de cara com minhas lembranças. Minha saudade que tá lá no armário cheia de teias. Numa olhadela já vi os cadernos de escola... já vi os amigos que não sei onde estão... já chorei pelos que se foram!
Vi os pacotes... ah pacotinhos! Cada um com “alguém”... um com o Mágico, um com o Fred, outro com o Amauri, tem do Santi também (média de meia folha por dia em 03 anos... com pausa de alguns meses...rs,) enfim.... pacotes com amigos, amantes, namorados... familiares..... até a cartinha do Pão eu reencontrei (esse era o apelido, que fim terá levado? Não lembro o nome). Era namoradinho de uma colega dos tempos de ginásio, ele, por tabela colega de conversa... pois nunca fui dada a dar bola pra conhecidos. Um dia, depois do fim do namoro deles, conversamos bastante... ele era um negro lindo. Papo vai, papo vem. Uma cartinha com coisinhas lindas... eu li a carta e passei a evitar encontrar com ele (viram? Minha idiotice vem de tempos!kkk). Só chegava depois e saia antes! Rs. Acho que esperou resposta... será? Hoje acho isso! Na época não achava nada. E ainda bem que eu não expressava o que vinha na cabeça, senão eu diria a ele com todas as letras que ele tava era querendo fazer ciúmes pra minha colega. Pq ele iria se interessar por mim, que não tinha nada a ver com a Edna?... ora! Por isso mesmo! Eu hein! Rs. Como já disse em outros escritos; eu não era famosa por ser a queridinha...rs, eu era a MALOQUEIRA..., no quesito meninos e “ficos”, não tive muitos, e os que tive, não valem à pena relatar...rs. Eu e a Sonia éramos de fatos os patinhos feios. Mas feios mesmo!kkkkkk. Eu quando brincava, mandava e desmandava pq era a DONA dos brinquedos, e meu pai tinha bar o que gerava a “troca” das amizades e só no meu quintal tinha ameixas amarelas! Na época de dar frutos éramos os amigos que todos queriam ter! kkkkkk. Tem isso escrito em outro lugar também! Portanto meu “cargo” era sempre o mais alto...rs. Já a Sonia, em seus relatos diz que sempre que brincavam de castelo ela era a escrava! De casinha, ela era a empregada... kkkkkk. Hoje olhamos as princesas da época e nos orgulhamos de sermos cisnes! Cisnes que ainda vivem em seus lagos azuis... mas já arriscam um pouco além. Sabe como é, cisne tem pescoção e esticamos os nossos pra todo lado!
Pois é! Vou mudar. Agora estamos procurando casa pra alugar. Tudo o que temos construído no quintal será demolido. As arvores, plantas, matos terão que sair também... pois a nova casa não comportará tanto espaço de terra. Já se foram há anos os 03 pinheiros, o pé de abacate, o de ameixa... a laranjeira (azeda que só! Mas era linda, fazia sombra bem fresquinha e era palco de nossas apresentações). A ameixeira era a casinha e porta para a laje, o abacateiro muito grande, lá tinha as cordas com nosso balanço, até que uma vizinha caiu na fossa (é isso mesmo, na fossa!) e meu primo arrancou a corda do abacateiro pra salvar ela. Aqui escrevo e marejo os olhos. Que delicia é minha vida! Que feliz fui e sou. O “serei” é agora... portanto sou! Visto que como disse o Renato Russo, se parar pra pensar no amanhã, na verdade não há! A nova casa não vai ter piscina... era um desejo de criança. Piscina hj pra que? E meu pé de jasmim? Deve ter uns 30 anos! Tá lindo, virou arvore! Quando começaram a pensar onde seria o que, meu quarto vai ficar bem onde é o jasmim, e eu disse que podia construir em volta... que não queria me desfazer, mas é impossível, né? claro que vamos tirar mudas de tudo. E claro que vamos voltar. Só estamos melhorando o que temos. Mas e as paredes de tijolos feitas com barro no lugar do cimento? Os 3 primeiros cômodos são assim. Ainda não falei pra ninguém, mas vou pegar um pedaço! Rs. ora! não posso deixar que não fique nada material do lugar onde nossos pais viveram da forma deles, felizes, até que a morte os separou, do lugar onde fomos gerados, criados, educados! Não posso! Não sou materialista. E não sou mesmo, senão essa casa já estava reformada há muito tempo, eu já estaria com minha velhice assegurada.... era só parar de pensar, parar de querer ser quem sou, que teria tudo. Só com o tempo a gente pensa no “E SE?”. Vejo os valores que teremos que desembolsar para fazer tudo isso, finjo que não me estresso, finjo que tô no mundo da lua... pois de estressado já basta meu irmão. Mas despejo tudo aqui... nessas “longas cartas pra ninguém” (Adriana Calcanhoto) e me sinto melhor. Se o pai fosse vivo, não ia querer essa reforma...rs, nisso adquiri mais genes dele! Meu irmão e minha mãe são mais pelo conforto, digo que são políticos! Rs. Vivem rindo e conversando com todos. Gostam da ostentação (no bom sentido). Eu sou mais o agora. O pai também era! Tinha comida, educação, oração, respeito, roupa? Então tava bom!!! Tinha um teto pra abrigar do sol e da chuva? Ótimo! Risos. E lembrando disso, sou mesmo, bem parecida. O pai vivia escrevendo! Não era materialista, mas não era esculhambado também, pelo contrario, sabia se portar, sabia se vestir, aliás, era elegantérrimo! O sapato sempre engraxado, as calças sempre com vincos. Acho que o pai devia ter escrito um livro. Meu! Ele era muito além, muito sábio... não podia ter guardado tudo o que sabia só pra si. Isso que vemos hoje no planalto, ele já sabia! Por vezes, fora convidado a participar “de carteirinha” do partido dos “trabalhadores” e não quis, pq dizia que de ética não tinham era nada, que pobre de espírito quem acreditasse e caísse naquela lábia. Ele fazia o bem sem levantar bandeiras. Sem se vender. Quando foi convidado a ser candidato ficamos tão felizes. Se ele aceitasse, adeus pobreza! Rs. Mas ele não quis (ai que raiva!)! risos. O pai era profeta? Não! Não via a coisa de fora, essa era a diferença. E quantas vezes não foi criticado por sua postura! Mas tudo bem... ele não relatou, relato eu!
É pai... vamos deixar nossa casa. Mas não fica triste, é só uns meses. Vamos voltar. E mesmo que não voltássemos, não deixaríamos nosso lar, que vai dentro de nós onde quer que formos. A raiz principal está em nossas almas. Vamos destruir o bar também! lembro da confusão que deu essa construção! Eu só soube o real depois que o pai morreu; até dessa decepção familiar ele nos poupou enquanto pôde e do quanto era podre (que trocadilho!). E o quartinho que a mãe fez pra costurar? Vixe! Ainda bem que do Dr. Alzheimer a distrai e ela não se dá muita conta das coisas em volta...rs. Senão ia ser um perereco! Ah! E ainda teremos que pagar pra demolirem! É mole? Pagar pra quebrar! As coisas tão muito mudadas! Risos. Mas........ siga a caravana! E que ladrem os cães!

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